Programa Lobos da Canastra

A missão do projeto é tornar a comunidade da região da Serra da Canastra um exemplo no uso sustentável dos recursos naturais do cerrado e na convivência harmoniosa entre o ser humano, o lobo-guará e a fauna local.

Em 1998 foi iniciado o projeto de pesquisa “Biologia comportamental e conservação do lobo-guará Chrysocyon brachyurus no cerrado do estado de Minas Gerais”, envolvendo 10 instituições lideradas pelo

Instituto Pró-Carnívoros. O projeto, popularmente chamado de “Lobos da Canastra”, contemplou vários objetivos relacionados à conservação do lobo-guará na região como estimativa populacional, dispersão de jovens, saúde, genética, comportamentos, áreas de vida e dieta. Além da pesquisa com o lobo-guará, algumas atividades junto à comunidade foram realizadas ao longo destes anos.

Todas as atividades realizadas com a comunidade buscavam a melhora na percepção dos moradores locais sobre a fauna. Também foram geradas discussões para compreensão dos problemas que afetam as comunidades e a partir disso, buscar por soluções pertinentes ao meio ambiente.

Rapidamente, o desenvolvimento de cada objetivo em linhas de pesquisa e ações estratégicas, evoluíram para a constituição de um programa transdisciplinar, o Programa para a Conservação do Lobo-Guará.

O “Programa para a Conservação do Lobo-Guará – Lobos da Canastra” iniciado em 2004, acumula  quase 20 anos de pesquisas e ações práticas direcionadas à conservação do lobo-guará na região da Serra da Canastra, Minas Gerais. As ações em andamento buscam reduzir a pressão sobre a espécie em uma área que está sob conflito permanente, através de propostas diretas de mitigação de impactos, o aumento e disseminação do conhecimento sobre a espécie e a alteração da relação da população local sobre o lobo.

As Linhas de trabalho do Programa são:

  • Avaliação do uso da paisagem pelo lobo-guará e impactos à sua ecologia espacial. 
  • Implantação de método de prevenção de conflitos.
  • Melhora da relação entre o lobo-guará e proprietários rurais.
  • Difusão do conhecimento e melhora da percepção do lobo-guará na Serra da Canastra e no Brasil.

Há uma relação de tensão entre a unidade de conservação Parque Nacional Serra da Canastra e a população local, originada ao longo do processo de criação da unidade há pouco mais de 50 anos. A falta de diálogo franco sobre a questão agravou situações, inclusive possivelmente aumentou mal-estar entre comunidade e Ibama (instituição que era responsável pela gestão das UCs federais no passado), e ainda persiste até os dias de hoje com o ICMBio. Alguns reflexos desse conflito foram facilmente identificados na região, como: ocorrência de incêndios florestais provocados dentro da unidade; reduzida participação da comunidade no combate a tais incêndios; baixíssimo índice de visitação de membros da comunidade à unidade; relação conflituosa com algumas espécies da fauna tais como lobo-guará, onça-parda, entre outros predadores. 

Com as ações do programa “Lobos da Canastra”, há uma transformação na relação entre a comunidade local e a fauna. Os moradores da Canastra hoje conhecem e apreciam não apenas o lobo-guará, mas também outros animais que habitam esse pedaço do Brasil. A partir de 2007, a caça aos lobos foi praticamente erradicada na região.

Para o desenvolvimento de educação ambiental junto à comunidade da região, foram adotadas três linhas de trabalho. 

 

1ª  Interação com a comunidade: Para melhor compreensão da cultura, das relações com a natureza e diretamente com a unidade de conservação. Foram realizadas várias entrevistas com diversos membros da comunidade (professores, estudantes, técnicos da prefeitura, ex-funcionários do Ibama, fazendeiros, profissionais ligados ao turismo). Também foram feitas observações da comunidade em escolas, no Parque Nacional da Serra da Canastra, em espaços públicos e festas locais típicas. 

2ª Atividade com escolas: Realização de oficinas para o desenvolvimento do tema transversal meio ambiente nas escolas, com maior enfoque no Cerrado. Durante as oficinas há um processo de reflexão e estabelecimento de estratégias para as escolas priorizarem a questão ambiental local. Ao todo foram atendidas quatro escolas dos municípios de São Roque de Minas e  de Vargem Bonita, contando com a participação de aproximadamente 100 professores, praticamente a totalidade de professores dos dois municípios.

3ª Cine Lobo: Realização de sessões de cinema em áreas abertas, como praças e fazendas. As sessões promoveram uma maior aproximação com a comunidade e criaram um canal efetivo de comunicação com o projeto Lobos da Canastra, em especial com os proprietários das fazendas da região. Eram reproduzidos vídeos de curta duração sobre temas ambientais de interesse e do dia-a-dia da comunidade, como  riquezas locais, relação conflituosa do lobo com criadores de galinha, saúde na área rural e resgates de tradições culturais. Juntamente com os filmes educativos, também foram exibidos filmes do cinema nacional. Com isso, foram geradas discussões que motivaram ações efetivas para a melhoria da relação da comunidade com a natureza e a valorização da cultura local. 

Além das diversas atividades educacionais já mencionadas. Foi no Programa Lobos da Canastra que nasceu o projeto de conscientização “Sou Amigo do Lobo”.  O projeto busca informar e envolver toda a sociedade, não só os moradores da Serra da Canastra, na conservação da espécie. E a partir da disseminação de informações geradas pelo projeto, seja possível uma nova política de uso dos recursos naturais do Cerrado e consequentemente melhores condições de existência para o lobo-guará. Para acompanhar as atividades educacionais, foi desenvolvido o mascote do lobo-guará, cuja utilização se deu amplamente nas atividades.

O trabalho realizado em Minas Gerais serve de modelo, tanto na comunidade científica como em outros setores. As estratégias de promoção da participação comunitária e já são adotadas também em outros locais de conflitos com a fauna. As questões tratadas no âmbito da educação ambiental, trabalharam a melhoria da autoestima, valorização das riquezas ambientais e culturais locais. O preparo para o debate e resolução de problemas em grupo não são especificidades dessa comunidade, mas de muitas outras no Brasil e, provavelmente, em outras diversas localidades do mundo. Sendo possível por meio dessa experiência realizar amplo debate sobre as relações da comunidade e do Parque Nacional. Também, levantar questões ligadas ao ambiente natural e uso sustentável dos recursos e o envolvimento de diferentes atores como fazendeiros e poder público local.