Perfil do lobo-guará desfaz imagem negativa do ‘semeador do cerrado’

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Fonte: G1

Em muitas culturas, lobo está associado a tragédias e desgraças.
Mas as fezes do animal ajudam a semear as frutas do cerrado.

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A expansão das fronteiras agrícolas e as produções de grãos e de carnes são motivo de orgulho para o Brasil. Mas as espécies pagam um preço muito alto por isso. Um dos principais prejudicados é o logo-guará, que, por seu papel ambiental, é considerado o ‘grande semeador do cerrado’ e ao mesmo tempo é mal compreendido e pouco conhecido.

A linguagem do lobo-guará é diferente. O mundo dele é dos cheiros. Ele usa o xixi e o cocô para marcar meu espaço, como os humanos fazem com muro e cerca de arame. Esse é um animal tímido e raramente encara no olho por considerar o ato uma afronta, um desafio. O perfil do lobo-guará é o do ressabiado. Ele não gosta de encrenca nem de agressão.

Em muitas culturas, o lobo não tem prestígio. O animal está sempre associado a coisas ruins. Devora vovozinha, come porquinhos, vira lobisomem, chama tragédia e desgraça. Mas o guará não é lobo mau.

As pessoas dizem que o lobo-guará não é de muitos amigos. O que é verdade. Ele leva vida solitária. Não anda em matilhas, em bandos, como os lobos norte-americanos e europeus, de quem, aliás, não é nem parente. Ele é primo meio distante do cachorro-vinagre, o cachorro do mato. Muito tempo antes de o homem chegar a este continente, os ancestrais da espécie já andavam pelo Brasil, principalmente pelo cerrado. Esse animal, que não tem hábitos de floresta, adoro um descampado. As pernas compridas foram feitas para o capim alto. A espécie gosta de vagar pelo verde entre as pedras, pegar a trilha que dará na beira de um córrego, matar a sede na água clara das nascentes. Pouquíssimas pessoas sabem que semear é o que o lobo-guará mais faz neste ambiente.

“A gente considera o lobo como o grande semeador do cerrado. Ele recupera áreas de cerrado através da disseminação das sementes pelas fezes”, explica Rogério Cunha, biólogo do ICMbio e Pró-Carnívoros.

“No ambiente natural, cerca de 70% da dieta é constituída de frutas do cerrado”, diz Laura Teodoro Ribeiro, veterinária do Centro de Desenvolvimento Ambiental (CBM).

O lobo-guará come todos os tipos de fruta do mato. Mas ele semeia apenas planta nativa, quase nada do que é consumido pelo homem. E o que a família do homem come passou a ser plantado justamente onde sempre viveu a família do guará. A casa e o quintal da espécie agora é pasto, lavoura e cidade. A quantidade de lobos-guará se reduz na proporção em que aumenta a ocupação das pessoas.

Além da perda das áreas nativas, uma ameaça crescente ao lobo-guará no cerrado brasileiro é o acidente de trânsito envolvendo, principalmente, os filhotes quando se separam dos pais. Na BR-020, perto da cidade de Luís Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia, houve mais uma ocorrência. No acidente, as patas dianteiras, a cabeça e o corpo, do macho, com idade de juvenil para adulto, ficaram, aparentemente, intactos. Mas, o traseiro foi todo esmagado. Segundo o ICMbio, uma de quatro em cada dez lobinhos morrem atropelados ao tentar atravessar as estradas.

O homem se preocupa com o fim do lobo-guará e coleciona espécies silvestres em lugar fechado. Essa é uma vitrine para que as pessoas saibam um pouco do que acontece fora das cidades. Um lobo na natureza precisa de quilômetros quadrados. Para os animais de vida livre é um exercício de sobrevivência em cativeiro. Nesse esforço de preservação, não é fácil reproduzir esses animais. “É uma espécie de baixa eficiência reprodutiva tanto em vida livre quanto no cativeiro, fora do ambiente natural”, explica Laura.

Em vida livre, o lobo e a loba guará formam casal fiel e leal. Ambos são muito dedicados aos filhotes. Entre os lugares que alcançaram relativo sucesso na reprodução do lobo-guará em cativeiro está o Zoológico Paulista de Sorocaba. Único criatório conservacionista do Nordeste brasileiro, o recém criado Parque Fioravante Galvani, de Luís Eduardo Magalhães, também logrou reproduzir o lobo-guará em recinto fechado. O caso já entrou para a literatura científica. O filho é o Vítor. O pai é o Charles e a mãe, a Lola, que chegou ao lugar amputada de uma perna, após ser atropelada no Rio de Janeiro.

A Mel, que chegou ao zoológico ainda filhote e foi criada na mamadeira, não apresenta o comportamento arredio e tímido do lobo-guará selvagem. Pelo contrário, ela é muito dada e adora um carinho. Um dia, uma criança visitando o lugar, falou para professora que não é um lobo mau, mas um lobo Mel.

O maior número de sucessos de reprodução foi registrado no Criadouro Científico de Fauna Silvestre da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), em Araxá, no Triângulo Mineiro. O criadouro tem por critério a preservação de espécies do cerrado. Em 28 anos, nasceram no lugar 75 lobos-guarás. Essa e a maior fonte da espécie para zoológicos brasileiros e do exterior. Um dos destinos de animais nascidos em Araxá é o do Instituo de Conservação Smithonian, Front Royal, Washington D.C, nos Estados Unidos.

Como em outras regiões do cerrado brasileiro, na Serra da Canastra era costume se perseguir, capturar e matar o lobo-guará. Hoje, ninguém admite a caça diante das câmeras. Mas, um proprietário nos permitiu, na condição de não ser revelada a identidade, mostrou um tipo de armadilha que usava na captura. Na gaiola há um compartimento, onde era colocada a isca viva, e a cela, onde o lobo ficava preso.

 

 

 

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