Parque Vida Cerrado

Experimento de reabilitação e soltura do lobo-guará

O Experimento de reabilitação e soltura do lobo-guará no Parque Vida Cerrado, foi criado com o objetivo de devolver à natureza três filhotes resgatados, na divisa de Goiás com Minas Gerais e Bahia. No dia 25 de junho de 2020 cinco filhotes órfãos de lobo-guará foram acolhidos pelo Berçário do Zoológico de Brasília. Esses animais foram resgatados pelos esforços do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) e Organização Não Governamental Onçafari. O resgate ocorreu depois que a mãe, Caliandra, ser encontrada morta a cerca de 10 quilômetros de distância da toca. Caliandra era monitorada há nove meses por meio de um colar de GPS, que auxiliava nos estudos e pesquisas científicas relacionadas à espécie. Com informações obtidas pelo colar, sabia-se que os filhotes nasceram no dia 1º de junho e ficaram órfãos no dia 23/06/2020. Depois de todos os cuidados pelo Zoológico de Brasília e de uma grande avaliação dos especialistas envolvidos, foi definido que os animais poderiam voltar para a natureza A partir desse momento foram várias iniciativas de trabalho para a realização da soltura dos filhotes em 3 áreas diferentes no Cerrado. Dois filhotes (Mangaba e Araticum) foram encaminhados para a ONG Onçafari e os outros três para o Parque Vida Cerrado (Pequi, Baru e Seriguela). Após tratativas entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA), Pequi, Baru e Seriguela foram encaminhados ao Parque Vida Cerrado.

O Parque Vida Cerrado é o primeiro e único centro de conservação da biodiversidade, pesquisa e educação socioambiental do MATOPIBA, localizado em Barreiras/BA. Em setembro de 2020 recebeu os três filhotes de lobo-guará para conduzir o desenvolvimento de um protocolo para reabilitação e posterior soltura, evitando a manutenção desses em instituições de fauna sob cuidados humanos (criadouros e zoológicos), em caráter permanente. Os animais permaneceram sob os cuidados da equipe, que adotou diversas estratégias para remanejamento de espaço e preparação de recinto temporário em suas instalações, aquisição de equipamentos de monitoramento, fornecimento de alimentação e manutenção em ambiente adequado e com total isolamento. Tudo pensado para evitar o máximo de contato entre a equipe e os lobos que pudesse dificultar a reintrodução dos animais em vida livre. Após um ano no Parque, Pequi foi transferida para uma área de preservação em Paraíso da Terra, Brasília, sob os cuidados da ONG Jaguaracambé.

Passado o período de adaptação, Baru e Caliandra foram transferidos para um centro de reabilitação pertencente à propriedade rural parceira do projeto, que é referência na adoção de diversas práticas sustentáveis. O local dispõe de árvores e arbustos com as frutas da região, que estão entre as preferidas dos lobos-guarás, bem como paisagem característica com a presença de presas naturais, como pequenos mamíferos, aves, lagartos e anfíbios. Neste ambiente, os animais receberam alimentação artificial diária e oferta de água. 

A equipe acompanhou a evolução comportamental dos indivíduos por meio de armadilhas fotográficas. Permitindo dessa forma a observação dos comportamentos executados pelos indivíduos no interior do recinto de reabilitação, sem que alguém da equipe esteja presente. Assim, evitando a habituação dos animais ao ser humano. Com os registros em período integral, foi possível a observação da evolução do repertório de atividades e as mudanças em seus padrões. Essas informações permitem a análise quanto às possíveis mudanças comportamentais e o ganho de capacidade de procura de alimento e desenvolvimento de estratégias de predação de animais oferecidos, aspectos necessários para o sucesso da realização da reintrodução. Além disso, esse conhecimento adquirido irá compor o protocolo de reabilitação e soltura branda e abrupta para futuras iniciativas. 

Após a evolução comportamental dos animais, com o aprendizado e aprimoramento das técnicas de captura de presas naturais, os lobos foram soltos em três áreas distintas A soltura ocorreu gradativamente, com o recinto de adaptação servindo de referência para alimentação e abrigo, até que a equipe percebesse a total independência e sucesso adaptativo da soltura, através de monitoramento com colares de GPS e transmissores de satélites. O monitoramento fornece informações sobre parâmetros de atividade e a constatação do sucesso adaptativo da soltura. 

Baru e Caliandra passaram por uma readaptação, em dez meses, no recinto construído em mais de 2,8 mil m², em uma área de preservação permanente com características típicas do Bioma local. Depois deste período, foram os primeiros a serem soltos, em 12/05/2022. Além dos cuidados básicos, antes da soltura, Caliandra e Baru receberam, cada um, um microchip subcutâneo, passível de leitura por pesquisadores e cientistas. Como um marco para as pesquisas e a proteção das espécies no País, para esse retorno à natureza, os dois foram os primeiros animais a receber um implante cardíaco. A partir de um escaneamento do monitor do coração, os pesquisadores poderão entender como funciona a fisiologia cardíaca deles e como será a sua atividade durante a vida. Há ainda um longo desafio pela frente e muitas ações que são continuamente realizadas dentro desta iniciativa, todos esses esforços caminham para o maior objetivo de conservar o lobo-guará. 

CALIANDRA

A Lobo-Guará Caliandra, já percorreu mais de 100 mil hectares. Em setembro de 2022,  foi capturada para a avaliação de saúde e leitura dos dados do colar GPS e do monitor cardíaco. Os exames clínicos demonstram que a loba está bem, sem lesões ou sinais de conflito, além de estar com um bom escore corporal, que avalia a situação nutricional do corpo. O grande deslocamento que vem sendo percorrido, mostra a busca por novas áreas, estas sempre têm ocorrido próximas à vegetação das APPs (Área de Preservação Permanente). Ressaltando a relevância dos corredores ecológicos para a conservação dos lobos e outras espécies. Há previsão de captura em março de 2023 para nova avaliação. 

BARU 

Baru estava sendo monitorado constantemente pela equipe. O animal vinha evoluindo bem. Infelizmente, em setembro de 2022, a inatividade do colar GPS do animal indicou um alerta para a equipe, que logo constatou o óbito. O exame de necropsia indicou que Baru teve sua pata mordida por uma serpente peçonhenta.

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