Lobo-Guará: A página mais completa sobre a espécie

O que você encontra aqui:

lobo caminhando silhoueta

Ficha Técnica

Ordem: Carnívora

Família: Canidae

Espécie: Chrysocyon brachyurus

Nomes populares: Lobo-guará, lobo-de-crina, lobo-de-juba, lobo-vermelho, lobo (português), maned wolf (inglês), aguará guazú, borochi, lobo de crina (espanhol).

Bioma de origem: Cerrado

Dieta: Onívoro

Peso (Kg): 20 a 30 

Altura (cm): 75 a 95 

Padrão de atividade: Noturno/ Crepuscular 

Estrutura social: Solitários ou casal (em época de reprodução)

Número de filhotes: 3 a 5 animais

Período de gestação (dias): 60 a 65 

Risco de extinção: Vulnerável

Principais ameaças: Atropelamento, caça, perda do habitat e doenças.

Características

O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) é o maior canídeo da América do Sul.

O corpo é laranja-avermelhado, com uma crina negra que varia de tamanho. As patas são negras, como se estivessem com meias que às vezes vão até o cotovelo, às vezes pouco menor, às vezes é maior; as traseiras possuem meias escuras mais curtas. O focinho também é negro. A ponta do rabo, a garganta e o interior das orelhas são brancos.

Os filhotes possuem coloração diferente até quase 6 meses. Nascem pretinhos, com a ponta da cauda branca, e vão adquirindo coloração parda já no primeiro mês de vida. À medida que o corpo vai ficando mais claro, focinho, patas e dorso se mantém escuros. Aos 7 meses já começam a apresentar a coloração de um lobo adulto. Aos 9 para 10 meses, atingem o porte de adulto, apesar de ainda serem jovens.

A coloração do corpo, cauda, e membros dos animais, é um identificador individual. Lobos têm diferenças marcantes de tamanho e formato nestas marcas (negras e brancas). Esta composição de cores ajuda na comunicação entre indivíduos e na camuflagem, para se proteger contra predadores e se tornar invisível durante as caçadas.

Possui as patas longas para auxiliar nos grandes deslocamentos pelos ambientes abertos e capim alto das savanas. As patas auxiliam também no momento da caça (em saltos altos). As orelhas funcionam como amplificadores e movem-se constantemente para captar melhor os sons, por mínimos que sejam (de ratinhos, aves terrestres, sapos). Desta forma, para a busca de comida e presas, confia principalmente na audição e olfato excelentes.

Quando adulto, o lobo pesa entre 20 e 30 kg, alguns animais podem chegar aos 33 kg. Medem entre 95 e 115 cm de comprimento de corpo, mais de 38-50 cm de cauda e tem em média 80 cm de altura.

© Adriano Gambarini

Distribuição

Hoje as áreas principais de ocorrência, são nas regiões da Serra da Canastra (sudoeste mineiro) e no Parque Nacional das Emas (sudoeste goiano).

Ocorre praticamente em todo Bioma Cerrado e áreas do sul do Brasil. Esporadicamente, pode aparecer também em algumas áreas do Pantanal. Além das áreas brasileiras, onde é mais extensivamente encontrado, ainda habita áreas em cinco outros países: Argentina, Bolívia, Paraguai, Peru e Uruguai. Devido ao desmatamento do Cerrado e outros ambientes nos outros países, acredita-se que a distribuição atual sofreu grandes reduções, em especial na porção sul de seu limite. Por outro lado, o lobo aumentou sua área de ocupação, aparecendo hoje em dia em áreas desmatadas da Amazônia (Mato Grosso e Rondônia) e Mata Atlântica (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro).

Devido à grande diversidade de ambientes que ocupa e de alimentos que compõem sua dieta, acaba sendo encontrado em áreas de intenso uso humano, como terras cultivadas para agricultura e pastagens. Entretanto essas áreas são utilizadas em menor proporção do que ambientes naturais.

Comportamento Social e Reprodução

O lobo-guará apresenta como padrão, os picos de atividade ao entardecer, noite e amanhecer.

Estudos mostram relação com umidade do ar e temperatura como fatores principais definidores de suas atividades. De fato, em dias de clima frio, céu nublado ou após uma chuva, é possível observar indivíduos da espécie procurando comida, patrulhando seu território, a qualquer hora do dia.

A espécie é territorialista, utilizando dos odores presentes na urina e fezes, muitos mais sensíveis ao olfato deles do que aos nossos, para demarcar território e evidenciar sua presença. A marcação se dá em lugares estratégicos para os animais e de grande dissipação de odores, como no alto de cupinzeiros, árvores caídas ou pedras ou simplesmente no meio das estradas. A vocalização (o latido do lobo que se chama aulido) é utilizada também nestas funções, mas também na comunicação entre casais e na interação com filhotes e jovens.

Eles têm hábito solitário. Porém, apesar de passarem a maior parte do ano sozinhos, a unidade social é o casal. Machos e fêmeas dividem o mesmo território, mas pouco se encontram durante o ano todo; só se juntam quase que apenas na época reprodutiva e se tiverem sucesso, durante os primeiros meses com os filhotes. Os pares são formados para toda a vida. Quando um dos dois morre, existe uma forte tendência do outro animal ficar sozinho por um período até encontrar outro animal em outro território, às vezes longe do seu original.

O tamanho da área ocupada por um casal coincide em quase 100%, mas é bem variável ao longo de toda a distribuição da espécie. Depende principalmente da qualidade do ambiente e facilidade de encontrar alimento.

Um comportamento interessante do lobo-guará é o de caça. Passa horas com o ouvido e nariz apurados procurando suas pequenas presas na vegetação alta. Quando encontra, fica imóvel, esperando um movimento mínimo que seja para refinar a localização. As orelhas parecem radares, captando os mínimos ruídos. Quando acha a presa se lança ao ar e mergulha dando um bote certeiro. E quando erra, a presa se esconde. É nesta hora que o lobo bate as patas no chão freneticamente para fazer as presas correrem, e na fuga, desfere outro bote. E mergulha até acertar.

Quando caçando cobras, eles usam o artifício de bater as patas no chão diversas vezes, e muitas delas acertando a presa. Quando estão já tontas, desfere uma mordida certeira no pescoço da serpente. E vai mastigando depois da cabeça para o rabo.

Reprodução

Os machos cooperam com as fêmeas no cuidado dos filhotes, apesar da fêmea fazer isso por mais tempo.

Normalmente a reprodução ocorre entre março e junho e o nascimento dos filhotes normalmente de maio a setembro. Podendo nascer até em outubro em casos extremos. A gestação dura de 60 a 65 dias, nascendo de 1 a 5 filhotes, apesar de existir relatos de nascimentos de 7 filhotes em cativeiro.

Para a parição, a fêmea identifica local ideal em matas, ou mesmo no capim mais alto. As tocas são “construídas” em arbustos densos ou campos limpos com grama alta moldada em uma galeria com túneis. Já foi observado também o uso de cupinzeiro abandonado como toca.

A ninhada é amamentada até os quatro meses de vida e até aproximadamente 8 meses os pais os alimentam por regurgitação. Os filhotes acompanham a fêmea (às vezes o macho também) e aprendem a caçar a partir de 3-4 meses. Os jovens atingem a maturidade sexual com um ano de idade (fêmeas) e 2 anos (machos).

Além disso, de forma geral, a espécie tem sido registrada em áreas extensamente alteradas para cultivo e pastagens. Sugere-se que a utilização de áreas de ocupação humana possa ser tanto para forrageio como para descanso, embora elas sejam usadas em uma proporção menor do que áreas naturais ou mais bem preservadas.

Habitat

Observou-se uma forte preferência da espécie por regiões de campos rupestres, evitando fortemente áreas de florestas úmidas.

O lobo-guará ocorre em habitats abertos, como áreas de campos e matas de capoeira. Existem registros esporádicos em áreas do bioma Pantanal e de transição do Cerrado e Caatinga e do Cerrado e Amazônia. Já apresenta o bioma de Mata Atlântica como habitat importante a sua ocupação, principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná.

Além disso, de forma geral, a espécie tem sido registrada em áreas extensamente alteradas para cultivo e pastagens. Sugere-se que a utilização de áreas de ocupação humana possa ser tanto para forrageio como para descanso, embora elas sejam usadas em uma proporção menor do que áreas naturais ou mais bem preservadas.

Segundo diversos estudos, a ocupação de habitats de mata atlântica se dá principalmente em áreas de campos, brejos e baixadas alagadas. Em áreas de transição entre Mata Atlântica e Cerrado, no estado de Minas Gerais, observou-se uma forte preferência da espécie por regiões de campos rupestres, evitando fortemente áreas de florestas úmidas.

Por outro lado, outros estudos registraram a ocorrência da espécie em fragmentos florestais e áreas de uso para silvicultura (pinus), em áreas de transição entre Cerrado e Mata Atlântica no estado de São Paulo. Sugere-se em todos os casos que esses habitats podem estar sendo usados para os lobos refugiarem-se durante o dia devido à alta antropização da região (áreas de agricultura e pastagem), apesar deste não ser seu ambiente de preferência.

Alimentação

É uma espécie onívora, isto é, se alimenta de diversos tipos de comida.

Consome uma grande diversidade de frutos e pequenos animais, como ratos, mucuras, gambás, tatus, aves (principalmente as rasteiras como perdizes e codornas), lagartos, cobras (mesmo as venenosas), muitos insetos. As vezes pode caçar também animais maiores como raposa-do-campo, cachorro-do-mato, e em casos raros, animais maiores como veados.

A quantidade diferenciada de frutos que compõem sua dieta faz com que possa aproveitar diversas espécies ao longo de todo ano. No entanto, é a fruta-do-lobo que elege como fruta preferencial em muitas localidades. Inclusive é esta relação do lobo com a lobeira, que resultou em tal nome à planta. Por crescer mesmo em áreas desmatadas, e estar disponível o ano inteiro, sementes desta fruta podem ser encontradas nas fezes dos lobos quase que sempre e fazendo assim deste animal o principal agente de disseminação da planta. E não somente da lobeira mas de várias outras plantas do cerrado. Entre outras frutas de preferencia do lobo, estão o araçá, o murici, a fruta-de-ema, ariri, e o cajuzinho do cerrado.

Mas mesmo com frutos disponíveis o ano inteiro, o lobo varia sua dieta, de acordo com a estação do ano. Durante a época chuvosa (a grosso modo de novembro a abril), se aproveita da abundância de frutos no seu ambiente, e se alimenta principalmente deles. Mas na seca (maio a outubro), quando eles diminuem, é quando precisa sair bastante para caçar suas presas, que também estão mais ativas em busca do alimento escasso.

Importância

É um excelente dispersor de sementes, participando assim da recomposição de campos degradados e até mesmo florestas neste bioma.

O lobo-guará se alimenta, boa parte do ano, de frutos. Com isso, muitas espécies de plantas que contam com as chuvas para carregar suas sementes, ou têm sua disseminação limitada por outros pequenos animais são beneficiadas por um animal que ocupa grande área de vida.

As frutas consumidas pelo lobo, são feitas de forma inteira. Sendo assim, os animais ingerem as sementes, que passam por todo trato digestivo e saem prontas para germinar na terra. As fezes dos lobos são, principalmente no verão, repletas de sementes. Muitas vezes, as fezes são depositadas quilômetros de distância de onde o fruto foi apanhado. Ainda, em alguns casos, ao defecar, não somente as sementes, mas a massa fecal é composta de partes não digeridas de frutos que servem de alimento a insetos que carregarão tudo para dentro da terra, plantando assim a sementes. Isso confere ao lobo o papel de agricultor do cerrado.

Muitas pessoas elegem os lobos como inimigos número 1, devido ao potencial de predação de aves domésticas. Com isso, não percebem este papel de semeador. E além dessa função, ao se alimentar de roedores, que muitas vezes se tornam pragas por investirem contra as sacas de grãos, trabalham também aliados aos produtores controlando assim as populações desses animais. Os mais antigos na roça apontam os guarás como problemas, mas ponderam: “Lobo perto de casa, é um defensor a mais contra ratos e cobras”. Assim, ganham pontos também pelo controle de serpentes nas redondezas das casas. Mesmo não sendo itens principais de sua dieta, as serpentes podem ser predadas, mortas pelos lobos. Tudo em grandes quantidades é prejudicial. O lobo ajuda a controlar e manter em equilíbrio populações vistas pelo homem como indesejadas.

Além das relações diretas na conservação da biodiversidade do Cerrado, a ausência da espécie pode ter também consequências indiretas importantes. Por ser uma espécie carismática, o lobo, apesar de ser perseguido, desperta a simpatia de boa parte da população. Desta forma pode servir como grande atrativo turístico a determinada região. Ao se eleger a espécie como animal-referência, símbolo, campanhas de associação ao turismo ecológico e rural podem ser realizadas, aumento o incremento financeiro de uma propriedade ou região.

Ameaças

Degradação do Cerrado

O crescimento das cidades e aumento da fronteira agrícola vão cada vez mais diminuindo os espaços naturais para as espécies do cerrado. Este bioma é um dos menos protegidos e por isso foi até categorizado como um dos 20 mais importantes em termos de elevada biodiversidade e da mesma forma enormes ameaças. Menos de 20% de suas terras são ameaçadas. Por mais tolerante ao desenvolvimento que uma espécie possa ser, terá consequências negativas se ambientes naturais não estão disponíveis.

Desta forma, a perda e modificação dos ambientes naturais, geram problemas sérios direta e indiretamente à vida dos lobos. Tais problemas vão desde a falta de espaços ideais para sua sobrevivência à consequências discutidas a seguir, como atropelamentos, encontros com cães domésticos, situações de conflitos com o ser humano. Assim, o lobo-guará é considerado vulnerável à modificação de seu ambiente natural, tendo suas populações ameaçadas em áreas de grandes modificações e atividades humanas intensas.

Atropelamento

Enquanto as áreas naturais vão sendo transformadas em grandes campos de soja, pastagens, canaviais, etc, os lobos, que são animais que se movimentam muito, aumentam sua procura por áreas com condições para sua sobrevivência. O Cerrado é um bioma cortado por uma grande malha viária. Com isso, as movimentações dos lobos eventualmente incluem cruzar estradas, rodovias de grande volume de tráfego. Desta forma, uma ameaça severa para a espécie, principalmente para pequenas populações, é o grande número de atropelamentos principalmente em SP, MG e GO (incluindo o DF).

A maioria dos atropelamentos envolvem indivíduos jovens procurando áreas para se estabelecer ou mais velhos, sem muita destreza. Em alguns lugares, estima-se que os atropelamentos sejam responsáveis pela morte de um terço à metade da produção anual de filhotes, o que se torna uma grande ameaça à espécie.

Infelizmente, os atropelamentos não acontecem sem querer sempre. Em alguns casos, motoristas atropelam animais propositalmente. Os lobos são animais que geram antipatia em muitos lugares, sendo um alvo a ser abatido em estradas eventualmente.

Um animal acompanhado por 8 meses na região da Serra da Canastra estabeleceu seu território em uma área cortada pela principal rodovia da região. Depois de cruzar a estrada X vezes neste período, ele foi atropelado. Não morreu na hora, mas a coleira indicou que ele foi arrastado alguns metros. Morreu 3 dias depois da colisão em uma matinha próxima do local do choque. 

Doenças

Outro problema que também deve ser considerado, embora ainda saiba-se muito pouco quanto à sua gravidade, é o risco de obtenção de doenças a partir do contato com animais domésticos, principalmente onde lobos e cães convivem nas mesmas áreas. Lobos-guarás estão sujeitos a várias doenças transmitidas por cães e, apesar de ainda não avaliado extensamente, sugere-se que o impacto destas doenças pode ser significativo.

Estudos na Bolívia e no Brasil, revelam que animais em contato indireto com cães, apresentam indicativos de várias doenças como raiva, cinomose, parvovirose, leishmaniose entre outras. Às vezes a doença não se manifesta, ou seja, o animal somente teve contato com a doença mas o organismo se defendeu e ele não tem sintomas que prejudicam sua vida.

A morte de indivíduos doentes (cinomose, raiva) ou de proles inteiras de animais portadores de doenças (parvovirose), comprometeriam populações antes saudáveis da espécie. Porém não se sabe ao certo o potencial de sensibilização da espécie às doenças que os lobos vem contraindo.

Importância

Conflitos com o ser humano

Quanto mais lobo, mais problema. Muita gente ainda acredita que esse animal, um dos maiores da nossa fauna, possa atacar e comer seus filhos, cães, bezerros, ovelhas. Mas isso não procede; é um animal arredio, se alimenta de animais pequenos e muitas frutas. Está muito longe de ser agressivo. Apesar de tímido e temer o homem, é curioso. Assim, quase sempre gera desconforto quando está por perto.  Quando a timidez dá lugar à curiosidade e oportunismo, de fato visitas à criação acontecem. Aí se dá o conflito. O resultado quase sempre é negativo para os dois lados. Do lado humano, a perda econômica. Do animal, a perda da vida.

Por isso, talvez um dos problemas mais significativos à espécie seja a perseguição devido a conflitos com produtores rurais. O abate de indivíduos em virtude de retaliação à predação de aves domésticos, é importante principalmente em pequenas populações. Como todo problema de predação de animais domésticos por carnívoros silvestres, a percepção é exagerada com relação ao real impacto do predador envolvido. Estudos mostram que apesar dos lobos sempre levar a culpa pela morte das aves domésticas, outras espécies menos visíveis pelo menor porte e furtividade (furões, cachorros-do-mato, gatos do mato, lagartos, cobras, gaviões, etc), possuem grande responsabilidade e nunca são responsabilizados. Em muitas propriedades, lobos usam como parte da área de vida, e as galinhas são consumidas muito eventualmente, ou nem são consideradas por eles.

Em avaliação na Serra da Canastra, de todo plantel de aves observado, somente 11,6% foi efetivamente predado. Menos da metade dos ataques foram provocados por lobo-guará. No entanto o estudo avaliou que a percepção dos moradores sobre a espécie é ruim, o que corrobora o número de seis animais registrados abatidos por conflitos, em 4 anos.

Ainda que estas reduções por conflitos não sejam o fator primário de ameaça à espécie, observa-se este cenário em diversos locais onde lobos e proprietários rurais dividem espaço.

Métodos de prevenção, como o uso de cães (sob condições de saúde boas e controle, para que não ataquem a criação) e galinheiros resolvem ou amenizam muito o problema.

Pesquisa

Pegadas

Os lobos são digitígrados, ou seja se apoiam principalmente nos dedos para caminhar. Por isso precisam de grande amortecimento nos dedos.

A análise dos rastros deixados por um animal é uma das formas mais antigas de se acompanhar seu dia a dia e aprender sobre seu comportamento. É usado desde quando os primeiros hominídeos caçavam os animais para se alimentar.

Pesquisadores do mundo inteiro, ainda no presente, baseiam seus estudos nas pegadas deixadas pelos animais. E hoje a tecnologia auxilia também. Com uma foto de uma pegada, um pesquisador pode descobrir qual o indivíduo que a deixou ali. Para isso detalhes sobre as medidas dos dedos, almofadas, distâncias entre eles, entre outras composições devem ser computadas anteriormente.

E tais detalhes são destaques nas marcas deixadas pelos lobos-guarás. E a estrutura de suas patas refletem seus hábitos de andarilho.

Desta forma o lobo-guará possuem 5 dedos nas patas anteriores (sendo um vestigial como nos cães domésticos) com grandes almofadas praticamente do mesmo tamanho da almofada da palma. Os dois dedos centrais são ligados na base por uma membrana. A almofada é triangular e absorve o impacto de forma secundária. Possuem também unhas grandes e grossas que ajudam a correr ou arrancar quando necessário. As patas traseiras possuem 4 dedos. São um pouco mais estreitas que as patas anteriores e os dedos um pouco menores.

As pegadas refletem essa anatomia: Impressão dos dedos grandes em forma de gota, na maioria das vezes unidos na base, e mostrando somente a ponta das unhas. As almofadas as vezes aparecem somente em uma ponta triangular principalmente nas patas da frente.

Armadilhas Fotográficas

Quando o animal entra na zona de interferência, a câmera é ativada e dispara a foto do lobo automaticamente.

As armadilhas fotográficas são uma forma interessante e simples de se conhecer os animais presentes em um lugar e até algumas informações importantes. Com a finalidade de se obter simples registros, qualquer pessoa pode instalar uma armadilha como essa e “capturar” imagens. Trata-se de câmeras fotográficas conectadas a um circuito de detecção de movimento.

As inúmeras características marcantes do lobo-guará (patas pretas, crina, tamanho do rabo, partes brancas) auxiliam na identificação dos indivíduos flagrados por esse equipamento. Para isso posiciona-se a armadilha fotográfica ao longo de uma trilha ou em locais com suspeita de passagem, objetivando uma imagem da lateral do corpo do animal.

Na pesquisa com os lobos-guarás, o equipamento pode ser utilizado em censos populacionais para observar a quantidade de lobos em uma região, observação de seu padrão de atividade diário, registros de filhotes e até mesmo para descobrir se o lobo é o tão mal falado ladrão do galinheiro!

Para o lobo-guará, instala-se armadilhas do tipo gaiola com portas em fechamento de guilhotina acionadas por um gatilho em plataforma ou preso direto em uma isca, ambos no fundo da mesma.

A instalação das coleiras, do brinco de identificação, além de outras necessidades,  requer a contenção do animal. Os procedimentos de captura variam bastante entre os carnívoros.  Armadilhas de captura de lobo-guará foram desenhadas especificamente para a espécie, observando a altura e comprimento padrão da espécie, e com objetivo de permitir que o animal tenha movimentação parcial em seu interior, sem riscos de injúrias de qualquer natureza ao ser capturado. A iscagem é realizada com atrativos alimentares e de cheiro (frango cozido, bacon, sardinha, frutas). As armadilhas devem ser checadas toda manhã (e, às vezes, no período noturno), após o horário de atividade dos animais.

Após os lobos serem capturados, devem ser anestesiados por veterinários treinados em trabalhos com animais silvestres. Com o animal anestesiado, dá-se início à primeira parte da investigação. Avaliações sobre as condições físicas dos animais, bem como seu peso, idade, sexo e aspecto clínico, são realizadas através da anamnese geral. A seguir, mede-se o lobo inteiro, todas as suas partes, com o intuito de observar diferenças de peso e saúde em função da idade ao longo do tempo. Paralelamente, coleta-se material biológico, como fezes, urina, sêmen, leite (quando em lactação), pelos, e, principalmente, sangue.

As amostras biológicas são fontes inesgotáveis de informações. E o sangue, um componente importantíssimo. Através do sangue, pode-se investigar se o lobo contraiu doenças presentes no meio e realizar estudos genéticos e reprodutivos. As análises podem ser feitas a céu aberto, próximas à própria armadilha, mas, dependendo da necessidade de isolamento para evitar contaminação, as amostras são processadas em laboratórios.

A recuperação de qualquer animal é acompanhada de perto e sua liberação só é permitida após total restabelecimento. Mesmo após a soltura, o animal deve ser monitorado e observado a distância.

IMPORTANTE

Somente pessoas autorizadas pelo Governo Federal (ICMBio ou IBAMA) – através de uma licença de pesquisa – pode capturar o lobo-guará e/ou outros animais silvestres. A captura sem devida autorização é considerada CRIME AMBIENTAL e a pessoa sofrerá sanções legais com o ato. O processo de autorização analisa se as armadilhas e o procedimento utilizado, além dos equipamentos a serem utilizados na pesquisa, estão nas conformidades que conferem segurança e priorizam bem-estar e saúde dos animais.