Lobos do Pardo

O lobo-guará como todo carnívoro de grande porte está sujeito a uma grande diversidade de ameaças em suas populações. Conhecer estas ameaças e aproximar as comunidades locais destes problemas é uma das estratégias para obter sucesso na conservação e na promoção da manutenção de populações silvestres a longo prazo. Uma das questões essenciais à conservação é entender como as alterações da paisagem, decorrentes do processo de desenvolvimento através da expansão urbana e da agropecuária, afetam a diversidade biológica. Apesar do aumento de informações sobre a espécie nos últimos anos, que permitem traçar novas estratégias de conservação para os lobos, é a primeira vez que é realizado um estudo sistemático em outra área além do sudoeste de Minas Gerais utilizando as mesmas metodologias do Programa para a Conservação do Lobo-Guará.

O Projeto Lobos do Pardo foi criado pelo Instituto Pró-Carnívoro em 2018. Neste, são monitorados lobos-guarás no nordeste de São Paulo, que vivem e sobrevivem em meio a pastagens e plantações de cana, de milho e de café. Também é parte do Programa para a Conservação do Lobo-Guará, dentro da estrutura do Centro Nacional de Pesquisa de Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP), que é um centro especializado do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Até 2021 era realizado em parceria com a AES Tietê (empresa de energia elétrica), atualmente busca associar-se a outros parceiros, especialmente na região de atuação. 

O projeto tem por objetivo geral avaliar as ameaças à sobrevivência do lobo-guará, a fim de direcionar estratégias para a conservação e manejo da espécie para a implementação de ações. As mudanças provocadas pela invasão de seu habitat, afeta drasticamente os lobos-guará como riscos de atropelamento, além de doenças adquiridas com a proximidade de animais domésticos e da perseguição e caça por proprietários rurais. A identificação desses problemas ajuda na busca de soluções para garantir sua proteção, incluindo o engajamento de fazendeiros na conservação da espécie. Lobos do Pardo também atende parte das lacunas apresentadas no Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação dos Canídeos Silvestres, publicado em 2018, alinhado com as estratégias oficiais de conservação da espécie. Sua área de atuação tem como referência a bacia hidrográfica do Rio Grande; especificamente é́ realizado nas sub-bacias do Baixo Pardo, Sapucaí, Pardo e do Mogi-Guaçu (na Bacia do Rio Pardo), limitadas pelos municípios de influência da UHE Limoeiro, UHE Euclides da Cunha e UHE Caconde (São José do Rio Pardo, Mococa, Caconde no estado de São Paulo e Botelhos e Poços de Caldas no estado de Minas Gerais) e a PCH Mogi-Guaçu (Mogi-Guaçu, Mogi-Mirim e Itapira no estado de São Paulo) sob concessão da empresa do setor energético AES Tietê. 

Até 2020 eram acompanhadas duas famílias de lobos-guarás: Pimenta e Ricco; e Mika e Picco, que cuidavam de três e dois filhotes respectivamente. Atualmente apenas Mika e Picco permanecem sendo monitorados, pois infelizmente o Ricco foi atropelado (em janeiro/2023) e a Pimenta não foi mais localizada, possivelmente tenha morrido pelos diversos riscos que há na região. Outro casal que está sendo acompanhado pela equipe é Raffa e a Clara. Além dos casais, há duas fêmeas que estão sendo monitoradas: a Lupi e a Bella. 

Esses indivíduos estão em constante acompanhamento e em especial nas Expedições “Sem sarna pra se coça”. Muitos animais são identificados com sarna. Para esses casos, a equipe do projeto faz o devido tratamento, com o uso de medicamentos. Os animais são também monitorados por armadilhas fotográficas e coleiras com GPS. Assim, é possível saber por onde os animais andam, e aumentam-se as possibilidades de novas capturas para acompanhar o tratamento e a melhora da saúde. Para isso, exames diversos são realizados. O protocolo que a equipe vem desenvolvendo, incorre em um tratamento dos animais em vida livre, sem a necessidade de internação em alguma instituição, o que representaria alterações significativas em sua vida e grande estresse para os animais recolhidos.