Galinheiro protege aves do ataque do lobo-guará em propriedades de MG

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Fonte: G1

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A ideia de colocar um lobo para tomar conta do galinheiro parece ingênua, mas o espaço para as aves pode ajudar a proteger o guará. Essa é a base de um projeto de conservação desenvolvido na Serra da Canastra, em Minas Gerais, que tem apresentado resultados positivos.

Imagine uma propriedade próxima a um parque nacional com a criação de galinhas indo muito bem. De repente, um lobo passa a rondar a área, e as aves começam a desaparecer. Para evitar prejuízos, o criador Alvarindo Seabra, de São Roque de Minas, colocou as galinhas em um antigo chiqueiro. Mas o lobo subiu o muro e atacou as aves. Então, ele prendeu as galinhas em um silo fundo e fechou o lugar direitinho. Mesmo assim, o lobo pulou embaixo, banqueteou-se e, ao sair, deixou os arranhados ao escalar as paredes de dois metros de altura.

Por décadas, os moradores do entorno do Parque Nacional da Canastra se incomodaram com essa sociedade indesejada com o lobo-guará, o animal-símbolo desta serra magnífica por onde brota o Rio São Francisco, que está no coração do Brasil. Desde a cabeceira, o rio começa a dar espetáculo, escorrendo, primeiro, em pequenas cascatas, e, depois, atirando-se em uma queda de quase 200 metros de altura.

A cachoeira Casca D´Anta é uma das atrações do parque que, como tantos outros pelo Brasil, ainda está em situação irregular. De modo que as propriedades particulares se confundem com as áreas de preservação. Assim, o fogo entra no parque, o gado entra no parque e os animais silvestres saem do parque para circular pelas fazendas.

Para reduzir a perseguição ao lobo-guará, o ICMbio e a ONG Pró-Carnívoros começaram em 2007 a fazer uma experiência que, na época, não chamou a atenção. O projeto ofereceu aos proprietários um galinheiro rudimentar, com poste de eucalipto tratado, tela padrão, barrado de compensado de material reciclado de embalagem e telha larga. Na ocasião, o custo com material e mão-de-obra não passou de R$ 1 mil por unidade.

Até agora, foram instalados 60 galinheiros em propriedades da região da Canastra. Um dos pioneiros, ainda de 2007, continua de pé na fazenda dos agricultores Leci dos Santos e Vitôr dos Santos, nascidos e criados na serra, naquele estilo centenário: gadinho no pasto para produzir queijo e muitas galinha no quintal

A agricultora contou que não levou mais de uma semana para mudar o hábito das galinhas. Toda a vida, elas dormiam nas árvores do quintal. Agora, as aves passam o dia soltas, e, no finzinho da tarde, é só chamar com o trato. Elas entendem que terminou a jornada e começam a aparecer. Espontaneamente, vão entrando no galinheiro. Aos poucos, vão se acomodando. O galo cumpre o papel de pôr ordem no poleiro. Mas sempre tem um retardatário.

Quando escurece e não falta mais nenhuma ave para se recolher, Leci fecha a porta do galinheiro. Então, a família pode passar a noite sossegada. O lobo não consegue derrubar a placa que serve de parede para o galinheiro nem romper a tela. Se mudar o tempo, com o coberto, as aves não sofrem com chuva.

Os agricultores pelejaram com o lobo por 35 anos e perderam a conta do prejuízo. Mas, depois do galinheiro, não houve mais ocorrência. Se o lobo não come a galinha, ninguém fica com raiva do animal. Agora, ficou óbvio que a proteção da presa também protege o predador. Mas no começo do projeto não houve nem apoio financeiro local.

Com os galinheiros, as criações ficaram livres dos ataques dos lobos, que ficaram livres dos ataques dos proprietários.

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